Capítulo 40: Rotten Bones
Tradutor: Guaxinim
Revisor: Aiko-maru
Em uma taberna em Wickidor.
Claramente não era noite, mas estava escuro como breu em um
dos quartos. Um pano grosso e preto havia sido colocado sobre a janela,
impedindo que o sol raro e brilhante do inverno chegasse ao centro da sala.
Se alguém olhasse com cuidado, havia apenas algumas figuras
vagas sentadas em silêncio, vestindo mantos pretos finos e ficando imóveis,
exalando uma estranheza indescritível.
De fato, quem entrasse provavelmente assustaria a própria
luz do dia com aquelas figuras moribundas.
E isso também era verdade – cada figura dos cultistas de
Rotten Bones era mais alta na hierarquia do que Carlo e foram corrompidos
fortemente pelo poder de seu deus.
Embora eles ainda mantivessem suas mentes humanas, seus
corpos estavam murchos e rígidos como madeira apodrecida, apesar de terem uma
força maior do que parecia. Eles também não contariam como vivos no sentido
literal, mas estavam mais próximos de uma existência semi-zumbi.
O silêncio durou muito tempo, até que um dos cultistas
quebrou o silêncio e virou-se para o que sentado em uma cadeira que parecia ser
o líder.
"Venerável, por que você agraciou Wickidor com sua
presença?"
"A bênção divina de Carlo havia retornado para
mim" o cultista que foi abordado como o 'Venerável' respondeu com a voz
rouca. "Ele está morto."
"O que?!" O cultista ao lado da cama exclamou em
descrença.
"Ele já era bom com a espada antes de se juntar a nós,
a maioria dos mortais nunca venceria contra ele depois de receber nossas
bênçãos divinas." Uma figura mais arredondada, sentada à direita do
Venerável. “Poderia ter sido um bispo da Igreja White Briliant que o matou? Mas
não têm igrejas aqui por perto..."
"Não, a mosca-preta plantada em seu corpo me informou
que foi a princesa." O Venerável disse.
A sala silenciosa começou a sussurrar. Os outros acharam
essas notícias difíceis de digerir.
Era verdade que, como ex-capitão da guarda imperial, a
habilidade de Carlo com a espada estava acima da média entre o povo, e seria
necessário um número esmagador ou uma capacidade sobrenatural para derrotá-lo.
Além disso, depois que Carlo recebeu o bônus de poder do Rotten Bones, sua
fraqueza como mortal em termos de defesa e resistência limitada foram
resolvidas, apesar de tornar seus movimentos mais rígidos. Definitivamente, foi
um enorme aumento de habilidade que quase o transformou em uma máquina de
matar.
Em comparação, a princesa acreditava no inexistente Deus dos
Jogos e, logo, acreditava essencialmente em nada, era, na melhor das hipóteses,
uma excelente espadachim. Ela nunca venceria uma luta contra Carlo!
"Quietos!" O Venerável rosnou com sua voz rouca.
Mesmo que ela não estivesse alta, os outros cultistas pararam de sussurrar
imediatamente, e a sala ficou completamente silenciosa mais uma vez.
O Rotten Bones não era uma religião pacífica, onde todos os
membros existiam em harmonia e igualdade. "Somente os fortes
sobrevivem" era a doutrina fundamental e, se não fosse pela proibição de
seu próprio deus maligno, todos provavelmente estariam se matando pelo poder
divino imbuído em seus corpos. Nesse ambiente, tornar-se Venerável – um dos
três bispos de seu culto – levaria alguém a ter poder suficiente para que os cultistas
comuns nunca ousariam confrontá-lo.
"Eu sei que todos vocês não podem acreditar, mas é
exatamente por isso que vim para Wickidor."
Enquanto ele falava, o Venerável pegou uma tigela de prata e
uma garrafa de vidro colorida do tamanho da palma da mão.
Ele abriu a garrafa desajeitadamente e derramou o líquido
prateado dentro da tigela. Então, ele hesitou por um momento antes de usar as
unhas afiadas para cortar um pedaço de sua carne rígida e deixar pingar o
sangue preto na tigela também.
Momentos depois, o líquido prateado da tigela começou a se
agitar, um crânio assustador, mas incomum, apareceu dentro.
Uma vez que o esqueleto apareceu, todos os outros cultistas
ficaram de quatro como se fossem esmagados sob uma força de dez mil toneladas,
pressionando com medo suas cabeças devotas no chão.
O crânio falava apesar de não ter nada parecido com as
cordas vocais.
Era um barulho que não podia ser entendido, como se algo
afiado estivesse arranhando um quadro-negro. Também se assemelhava ao miasma
escuro e hostil dos pântanos, uma linguagem blasfema que contém uma influência
viciosa que se exerce sobre o espírito de todos os mortais, reduzindo-os a uma
espécie mais sombria.
A voz ressoava mesmo na cabeça dos imbecis, e os cegos
podiam ver o chamado do inferno e do abismo. Somente aqueles com a fé mais
firme em seu deus poderiam suportar o impacto vindo do outro lado.
Pois essa era a voz de um Deus do Mal.
[Eu captei o perfume de um deus desconhecido!]
[Pegue-a e sacrifique-a como uma oferenda ao grande Rotten
Bones!]
[Eu reivindicarei o poder do deus para o qual ela reza!]
"Como desejar, meu senhor."
Somente o arcebispo do Rotten Bones pode se apegar à sua
racionalidade diante da presença de seu próprio deus – ainda que por pouco. Ele
não estava esparramado no chão e tremendo, ele conseguiu responder com total
reverência no final.
O crânio formado a partir do fluido prateado acenou com
satisfação, antes de desaparecer e voltar ao líquido que caiu na tigela mais
uma vez.
Foi só então que os outros deram um suspiro de alívio e
finalmente conseguiram levantar a cabeça.
“Assim como nosso senhor Rotten Bones disse, apressem-se e
encontrem a princesa e a sacrifique ao nosso grande deus! Lorde Rotten Bones
pode consumir outros deuses para subir no seu ranking! Chegará o dia em que não
precisaremos mais nos esconder nas sombras, e que poderemos lutar contra as
igrejas que se autoproclamam justiceiras!” O arcebispo ensacou a tigela de
prata, seu rosto enrugado estava mostrando uma aparência diferente que agora
combinava emoção e paixão selvagem. "Rotten Bones deve andar na
terra!"
"Rotten Bones deve andar na terra!"
☆
"Wilf, você não pode reconsiderar?"
O chefe da filial de Wickidor da Silver Chimes tentou
persuadir o comerciante pacientemente. "Você não consegue encontrar uma
guilda de comerciantes tão boa quanto a Silver Chimes atualmente. Se você sair
agora, todo o seu trabalho anterior irá pelo ralo!”
"Está tudo bem,
eu acalmei meu coração para isso" respondeu Marni Wilf sem hesitar.
"Tudo bem, se
você já se decidiu..." O chefe do ramo suspirou, antes de finalmente
carimbar a demissão de Marni e selá-la dentro de um envelope que ele enviaria
para a sede. “Dito isso, por que você insiste em sair? Pode ser de você ter
encontrado uma nova fronteira?”
"Hehehe, não é nada. É só que estou renunciando à minha
fé em Gaglomeia, a Deusa da Prosperidade" Marni mudou de assunto
indiferente a conversa. "A propósito, não há mais refugiados por aqui em Wickidor?"
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